No dia anterior, a moeda norte-americana recuou 0,11%, cotada a R$ 5,8012. Já o principal índice da bolsa de valores avançou 1,43%, aos 125.637 pontos. Notas de real e dólar
Amanda Perobelli/ Reuters
O dólar fechou em baixa nesta sexta-feira (14), cotado a R$ 5,74, com investidores analisando os novos dados das contas públicas do Brasil e os reflexos da popularidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após a divulgação de nova pesquisa Ipsos-Ipec na véspera.
O resultado também veio em linha com o exterior, em um dia marcado por maior apetite a ativos de risco e por perdas da moeda norte-americana em relação às moedas de outros países
Por aqui, destaque para as contas do setor público consolidado, que apresentaram um superávit primário de R$ 104,1 bilhões em janeiro deste ano, o equivalente a 10,83% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme o Banco Central (BC).
O superávit primário acontece quando as receitas com impostos ficam acima das despesas, desconsiderando os juros da dívida pública. Em caso contrário, há déficit.
Com o resultado, a dívida do setor público consolidado registrou queda de 0,8 ponto percentual no começo deste ano, atingindo 75,3% do PIB — o equivalente a R$ 8,9 trilhões. Apesar do nível da dívida, os números representam uma diminuição de riscos fiscais, o que ajuda a segurar o dólar.
Além disso, pesquisa Ipsos-Ipec divulgada na noite de ontem aponta que 41% dos brasileiros avaliam o governo de Lula como ruim ou péssimo e 27% como ótimo ou bom. É a primeira vez no terceiro mandato do petista que o instituto aponta a que a avaliação negativa supera a positiva.
No cenário externo, investidores seguiram de olho nos movimentos de Donald Trump e nos efeitos do “tarifaço” promovido pelo presidente norte-americano.
Nesta sexta, também foi divulgado o Índice de Confiança do Consumidor da Universidade de Michigan, que subiu para 73,0 neste mês, o maior patamar desde abril, superando a estimativa de economistas. O índice ajuda a dar pistas sobre o aquecimento da maior economia do mundo.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em alta.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
Dólar
O dólar recuou 1%, cotado a R$ 5,7433. Na mínima do dia, chegou a R$ 5,7117. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
queda de 0,81% na semana;
recuo de 2,92% no mês; e
perda de 7,06% no ano.
No dia anterior, a moeda americana teve baixa de 0,11%, cotada a R$ 5,8012.
a
Ibovespa
Por volta das 17h10, o Ibovespa subia 2,68%, aos 129.009 pontos.
Na véspera, o índice teve alta de 1,43%, aos 125.637 pontos.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
alta de 0,48% na semana;
avanço de 2,31% no mês; e
ganho de 4,45% no ano.
O que está mexendo com os mercados?
O leve recuo de 0,1% no comércio varejista brasileiro em janeiro veio em linha com as projeções de mercado e representa a continuidade de uma desaceleração iniciada em novembro, após o setor registrar recorde em outubro.
No entanto, em relação a janeiro de 2024, o varejo acumula uma alta de 3,1%, na vigésima taxa positiva consecutiva. Em 12 meses, acumula alta de 4,7%.
Nos EUA, o destaque do dia fica com os novos índices de confiança do consumidor, que revelam qual a percepção das pessoas sobre os rumos da economia no país. A expectativa do mercado é de uma redução na confiança.
Nos últimos dias, os EUA também divulgaram dados de inflação, que podem contribuir para a tomada de decisão do Federal Reserve (fed, o banco central americano) em suas próximas reuniões sobre a condução dos juros no país.
A inflação ao produtor ficou estável em fevereiro, depois de uma alta de 0,6% em janeiro. Também ficou abaixo das projeções, que previam alta de 0,3%. Na taxa anual, o índice subiu 3,2%, abaixo dos 3,7% do mês anterior.
Já o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu menos do que o esperado em fevereiro, com avanço de 0,2% no mês.
O resultado representa uma desaceleração em comparação a janeiro (0,5%), mas, segundo especialistas, a preocupação é que a melhora do indicador seja temporária, em meio ao cenário de tarifas agressivas sobre as importações por parte de Trump, que devem acelerar os custos da maioria dos produtos nos próximos meses.
A inflação ao produtor é considerada um “passo anterior” da inflação ao consumidor, porque o encarecimento da produção pode ser repassado aos consumidores finais. Assim, uma desaceleração da inflação ao produtor pode gerar o mesmo efeito sobre a inflação ao consumidor.
Uma inflação menor é vista com bons olhos porque pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a voltar a cortar suas taxas de juros nos próximos meses, evitando uma possível recessão econômica.
Tarifas de Trump continuam no radar
A semana foi marcada por uma cautela que tomou conta dos mercados nos últimos dias com as ameaças tarifárias de Trump. Nesta sexta, porém, sem novos desdobramentos relevantes do tema, o tom do pregão é de um leve alívio nas negociações.
Mesmo assim, o mercado também segue repercutindo os últimos desdobramentos da política tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, que podem impactar o país, com um aumento da inflação e redução do consumo, e o mundo todo, já que os norte-americanos são importantes parceiros comerciais de diversos países.
Na manhã desta quinta, Trump disse que, caso a União Europeia não retire a taxa de 50% sobre o whisky que é importado dos EUA, o país vai impor tarifas de 200% sobre todos os vinhos e champanhes da região.
“A União Europeia, uma das autoridades tributárias e tarifárias mais hostis e abusivas do mundo, que foi formada com o único propósito de tirar vantagem dos Estados Unidos, acaba de aplicar uma tarifa desagradável de 50% sobre o uísque. Se essa tarifa não for removida imediatamente, os EUA em breve aplicarão uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos, champanhe e produtos alcoólicos saindo da França e de outros países representados pela UE. Isso será ótimo para os negócios de vinho e champanhe nos EUA”, escreveu Trump na plataforma Truth Social.
Na quarta-feira (12) começaram a valer as novas tarifas de 25% dos EUA sobre aço e alumínio importado de todos os parceiros comerciais do país, trazendo uma série de retaliações e reações ao redor do mundo.
O Canadá, por exemplo, que é o maior fornecedor de aço para os EUA anunciou US$ 20,6 bilhões em tarifas retaliatórias aos EUA a partir de quinta-feira (13), enquanto diversos países da Europa criticaram a medida.
No Brasil, que também está no topo do ranking de exportador de aço e alumínio para os norte-americanos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo está estudando medidas para proteger o setor siderúrgico brasileiro diante do aumento das tarifas norte-americanas.
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O secretário do comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse nesta quarta-feira (12) que nada impedirá as tarifas de 25% sobre aço e alumínio até que a produção doméstica seja fortalecida, destacando que Trump ainda deve acrescentar o cobre às suas proteções comerciais.
As novas tarifas reforçam o cenário de incerteza global e os temores de que os EUA e o mundo possam ver um novo aumento de preços e uma desaceleração da economia.
Em entrevista à Fox News no último domingo (9), por exemplo, Trump não descartou uma recessão e um aumento de preços no “período transitório” (de implementação) de suas medidas, e minimizou as preocupações das empresas com a falta de clareza de suas políticas tarifárias.
“A incerteza e a volatilidade continuam neste mercado”, disse Mona Mahajan, chefe de estratégia de investimentos da Edward Jones, à Reuters. “O crescimento econômico começou a desacelerar antes mesmo da incerteza tarifária nos EUA. Isso não é incomum no primeiro trimestre do ano, mas o que é incomum é aumentar a incerteza em torno da política.”
No começo da tarde de quarta, Trump também voltou a falar sobre o assunto, reforçando algumas de suas ameaças tarifárias e criticando o posicionamento de alguns países.
O presidente afirmou que “com certeza haverá tarifas sobre os carros” e que vai impor as tarifas recíprocas, inclusive respondendo às retaliações dos países que já foram taxados. Sobre a possibilidade de ter flexibilidade na tarifação para determinados setores ou países, Trump disse que “haverá muito pouca flexibilidade”.
Segundo Trump, as medidas farão com que os EUA sejam “financeiramente mais fortes do que nunca”.
“Acredito que os mercados vão disparar quando eles verem o que está acontecendo. Muitas grandes empresas me ligam todos os dias, falei com o Business Roundtable ontem. Tivemos uma grande conversa, foi muito boa, e há muito otimismo sobre o nosso país, em termos de regulações e impostos que estão sendo cortados”, disse o presidente.
*Com informações da agência de notícias Reuters